Monday, April 16, 2018

Antidepressivos

Uma andorinha certa vez me disse que palavras não traduzem sentimentos. O problema é que eu não tenho outro instrumento. Quando as palavras nada significam e as ações são esquecidas ao me resta ser julgado pelo crime que não cometi, ou cometi, de certa forma, com brilhos nos olhos e amor no coração.

Queria saber por que não chove, não faz sol, não venta. Por que não dói, não irrita, não faz feliz? Por que eu fecho as cortinas, tranco as portas e deixo as luzes desligadas? Não vou tomar essa pílula...

As músicas trazem sentimentos que não são meus. Os livros, pensamentos que não me pertencem. Eu assisto os filmes e vejo pixels coloridos. Eu vejo as fotos e vejo papel e tinta. Eu olho para o espelho e não vejo nada. Não vou tomar essa pílula...

Queria sentir tristeza, mas parece um sentimento tão distante... Eu imagino um rato em um canto de um quarto com um gato em sua frente. Pela esquerda, não há caminho para fugir. Pela direita, também não há espaço. Ele luta e apanha, volta para o canto, mas o gato não vem atrás. Ele simplesmente espera. Antes o gato viesse e acabasse com isso. Mas não, ela fecha o caminho e observa. Cansado de lutar, sem caminho para seguir e sem mesmo poder se entregar, o rato, naquele canto, se encontra catatônico. Ele não tem porque lutar, não tem porque temer, não tem por que se entregar, não tem porque correr, não nada. Não vou tomar essa pílula...

Olho para dentro e procuro uma voz, uma essência, algo que eu possa agarrar e chamar de eu. Só encontro um monte de lixo acumulado da história até aqui, um conjunto de sobras de experiências com lembranças de emoções e marcas de sofrimentos. Esse empilhado de porcarias juntas constroem essa forma grotesca que você vê. Mas atrás dessas coisas, tirando tudo que foi construído, procurei aquilo que sempre esteve ali e só encontrei um vazio. Não vou tomar essa pílula...

Sentado novamente em um maldito bar, acendo mais um cigarro. Os bêbados e os drogados e os garçons e os cachorros de rua vagam sentindo seus sentimentos. Vejo a mina mesa um cinzeiro, duas garrafas e um maço de Camel azul. Droga... Tomei a porcaria da pílula...

O caminho da cicatriz

Tenha boas intenções
Você será condenado
Exponha o que você sente
Você será mal entendido

Ouça sem julgamentos
Você será iludido
Cuide com todo o carinho
Você será descuidado

Beba quando estiver sóbrio
Você será criticado
Fume um maço inteiro
Você será destruído

Dance quando estiver bêbado
Você será escolhido
Acolha quem estiver próximo
Você será julgado

Ame como se não houvesse amanhã
Você será proibido
Dedique toda atenção
Você será chicoteado

Aposte tudo que tem
Você será massacrado
Aposte o que não tem
Você será excluído

Beba quando estiver bêbado
Você será suprimido
Viaje para Las Vegas
Você será abandonado

Chore sem ninguém ao redor
Você será mutilado
Morra na mesa de um bar
Você será esquecido

Wednesday, January 31, 2018

Será que é você, será?
Mais perto que isso, nunca terá
Será que você chegou onde ninguém chegará
Ou será só mais uma ilusão do mundo que há

Estou tão descrédulo com tanto tempo de luta
Que já acho que toda a verdade é fajuta
E depois de acordar tantos dias na labuta
Não acho possível alguma lei que ficou oculta

A anja é somente uma ilusão
Os olhos sedentos é só desejo de atenção
E toda a verdade que se escondeu na escuridão
É só uma mentira mascarada na construção

Hoje saí do bar, sem desejo e sem grito
Sem achar que meus problemas são de um amigo
E com a insanidade que agora eu permito
Disparei na direção de uma perdida, um tiro

Que sirva de um aviso, aqui não há felicidade
O inteiro que se vê é muito menos que a metade
E apesar do frescor quase impercebível no fim de tarde 
A loucura ainda surge quando a lua faz algum alarde

Onde está você minha anja? Te quero te preciso

Friday, February 17, 2017

Olá minha velha amiga, você ainda está aí?
Parece que foi ontem a última vez que lhe vi
Não com aqueles olhos cinzentos dos nossos últimos esbarrões
Mas com aqueles olhos vermelhos que atravessam as escuridões
Da minha alma

Cortantes, precisos, cirúrgicos, sedentos
Carregando em si a força dos quatro elementos
Buscando os meus braços em um resgate fugaz
Acolhendo-me em teu seio. A tão almejada paz
Da minha vida

A idade tem aperfeiçoado o meu fechamento
Passando despercebido meu secreto isolamento
Minha felicidade artística é quase sincera
Só uma das camadas das prisões da esfera
Do meu corpo

Acabo de voltar do metafísico visceral
Onde expõe-se sem travas o meu sangue animal
Correndo livre como um anjo do inferno
Buscando sua alma no silêncio eterno
Eu desejo

Acabo de dormir contigo em uma outra dimensão
O que me fez despertar novamente nessa prisão
Agarrando as grades, meus olhos em devaneio
O grito silencioso suplicando em anseio
O teu amor...

"E então eu me deparei com o abismo vivo. Hipnotizante, horripilante, não receoso, mas curioso com a minha presença. Por não ter forças, dei meia volta e não voltei para aquele lugar. Não há palavras que descrevam o arrependimento de não pular" - Jack Polanski

Thursday, March 12, 2015

Será que entendi?

Depois de todo esse tempo
Acho que finalmente entendi
Que sou um nada em sua vida
Independente de tudo que senti

Entendi que tudo que senti
Foi uma mentira que nunca existiu
Que tudo que eu sinto, que vivi
Foi intepretado com 'você nunca sentiu'

Entendi que ouvir sua música, compartilhar de sua vida
Ouvir suas ideias, te tomar como minha querida
Saber dos teus sonhos e querer te ajudar a ir adiante
Seja como professor, aprendiz, amigo ou amante

Seja tomando cerveja, fumando um cigarrro
Ouvindo Pearl Jam, tocando um violão
Fumando maconha, cigarro e almas
Te carregando, com seus ideais, gostos e opinião

Seja abraçando seu jeito, seu cheiro, seu amor
Seja sabendo teus limites, tuas mágoas, tua dor
Sabendo tua história, quem errou, quem acertou
Abrindo meu peito, te mostrando quem eu sou

Entendi que apesar de gostando de ser seu amigo
Se meu nível de apego não é igual ao seu não vale nada
E que se me importo com você. se me preocupo
Sem frequencia é só um cuspe na calçada

Entendi que sua opinião sobre o que eu sinto é soberana
E que minhas emoções, por não ser suas, é só uma coisa branda
Entendi que minha presença não é nada necessária
E que mesmo a amizade se tornou uma coisa inválida

Amargo as escolhas que fiz para andar em seu caminho
Entendi que nessa jornada  sempre estive sozinhho
Pois se em algum momento pensei que eramos dois
Erá só uma ilusão que minha mente propôs

A anja morreu em meu coração. Entendi que foi só uma coisa da minha mente. Não dá para achar que os outros sentem o que a gente sente. E nosso sentimento não tem nenhum valor quando o outro já não senta mais o nosso calor. Expectativas... Intensidade... Palavras que escondem o que é a verdade. Que eu me dediquei a te conhecer, a fazer parte do teu mundo. Mas no final, do outro lado da rua, sou só um vagabundo.

Ninguém, nenhum dia vai me entender. Falta dedicação, falta interesse. Eu penso, eu ouço, eu vejo e não falo nada. Sou só um bêbado louco caminhando na madrugada.

Wednesday, February 18, 2015

Chuva

A chuva cai lá fora. Eu sentado no colchão jogado na sala, com gosto de ressaca na boca e pensamentos viajando no passado. Às vezes eu me pergunto se o tempo e a experiência realmente traz alguma sabedoria, e se em algum momento minhas atitudes vão parar de machucar a todos que estão ao meu redor. Às vezes me pergunto se é assim com todo mundo. Será que é?

Venho chegando a conclusões estranhas ultimamente. Quando penso sobre o passado, vejo que são imagens que se passam na minha mente, no presente. E, assim como uma fotografia, os sentimentos mudam cada vez que faço essa viagem para trás. Quando penso sobre o futuro, vejo que é incerto e que cada pequena atitude o constrói, então é impossível controlá-lo ou prevê-lo totalmente. Sobraria o presente, que ultimamente tem se provado sem substância alguma, como um sonho.

Porém, é inegável que algo está acontecendo aqui. Estou respirando, digitando, sinto meus dedos tocarem o teclado e tenho uma resposta na tela. Apesar de parecer um sonho, uma ilusão, é uma miragem que segue alguma lógica. Mas chega dessa filosofia barata, já que ultimamente tenho me prendido à lógica para não olhar para meus sentimentos.

Os sentimentos, estes sim estão vindo com muita energia, a ponto de tomarem conta do meu corpo e agirem por mim. Por isso decidi reprimi-los um pouco. Não estou dando conta. E é engraçado como, com o tempo, a gente aprende a esconder isso. A idade vem trazendo a incrível habilidade de sofrer sorrindo, de vender felicidade escondendo, na calada da noite, as lágrimas, o silêncio, a depressão. Acho que até deve dar a impressão de ser uma mentira. Só quem sente sabe.

No meio disso às vezes dá vontade de tomar decisões bruscas, de mudar totalmente o caminho a seguir, de brincar de moldar o futuro e fazer novas apostas. Mas tenho a impressão que qualquer mudança de caminho ainda vai me levar para o mesmo lugar. Outros rostos, outras vidas, mesmas atitudes e mesmos sofrimentos. Por que fazer mais alguém sofrer? Por que carregar a culpa adiante, disseminando entre a multidão? Não tenho a clareza das minhas ações e por isso decidi que, neste momento, vou fazer simplesmente nada.

Um amigo meu me dizia que, no meio do turbilhão, quando a gente não sabe direito o que fazer, o melhor a se fazer é ficar parado. Não fazer nada. Causa menos estrago. Então sigo seu conselho, não estou fazendo nada, esperando o furacão passar, esperando uma luz, um sinal. Mas tem sido difícil. Preciso de alguém para conversar, mas com tanta merda que fiz parece que não sobrou ninguém. Será que uma hora essa chuva passa?

Thursday, January 22, 2015

Desculpe se demorei para escrever isto

Como diz o começo desta música
Desculpe se demorei para escrever essa canção
Mas é difícil obserservar o que se sente
Quando se está observando do meio de um furacão

Ainda é muito difícil pra mim retomar a escrita
E ainda é muito difícil expressar o que sinto novamente
Então desculpe se justamente agora não houver rima
Mas acho que não dá pra fazer brincadeira com o que a gente sente

Tony Sly foi um cara importante na vida de um amigo
E assim se tornou, principalmente essa música, importante pra mim
E com toda a importância que essa música carrega
Dedico ela e os meus sentimentos todos para você

Apesar de você achar que era mais uma
Você foi e, mais impotante, será sempre a única
Único é seu cheiro, suas ideias, seu beijo
Sua presença, sua vida e sua história junto à minha

Você pra mim vai ser eternamente um karma
A ação que levou a reação e que estará estampada em mim
É a carta de amor produzida em um seriado
Que sempre fará sentido só pra mim e pra você

Será a minha iniciadora no submundo da vida
E a protetora do que eu acreditava com timidez
A que mais aguentou ouvir sobre meu passado
E a que me apresentou seu passado sem segurar nada em segredo

Apesar de me sentir incompreendido, entendo você não me entender
Sou louco, biruta, doido, pirado, e incompreendido assim como você
Se quiser duvide do que eu sinto se é que eu disfarço bem a minha dor
Foi como eu disse, vou ser pra sempre culpado por haver este amor

Aceito o peso de quem está errado nessa história
Por achar que valeu a pena ter vivido o que vivi com você
E por ter conhecido uma pessoa tão maravilhosa
É que sei que nada que fiz levará a me arrepender

Como me arrepender de ter vivido este grande amor?
Como me arrepender de ainda viver, sem dúvida alguma?
Como me arrepender se o tempo segue e a vida acontece
mas saber que essa experiência, na tua vida e na minha, só haverá uma?

Por fim sei que nada do que eu escrevo vai servir
Pois o que eu sinto tem que ser lido no olhar
E já que nunca vou ter o mesmo olhar de volta
Sei que pra sempre vou ter que me contentar

Em pra sempre, sozinho, te amar



Infielmente bêbado seu,
Cleyton Bruno



Wednesday, October 15, 2014

Eternamente

Anja negra querida, amor da minha vida
Nunca vou te abandonar
Atravessando esquinas vazias, ruas sem saída
Sabia que sempre iríamos nos reencontrar

É incrível perceber que depois de tanto tempo
Nada mudou e ao mesmo tempo virou do avesso
Entre cervejas, cigarros, músicas e poesias
Sempre há espaço para escrever o recomeço

Tudo mudou e continua perfeitamente igual
É como se sempre soubesse que te encontraria no final
E enquanto caio em seus braços novamente chorando se saudade
Sinto que nunca saí de seus braços de verdade

Seu beijo, seu abraço, seu carinho, sua vaidade
Não retorno pois percebo que estive aqui por toda a eternidade
Sabendo que o amor não existe mas sempre estará presente
Me perco no mundo para voltar aos teus braços novamente